Os Mundos e a Porta

Os Mundos e a Porta

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Carrefour



Confrontados com a necessidade básica de comer e um pouco cansados de grelhados em directo na mesa do restaurante com desastrosas consequências para o odor dos vestuários e enjoados de sabores muito ou muitíssimo desconhecidos, decidimos que a palavra Carrefour só podia trazer algo de bom. E assim é. Pequim tem um, com a configuração física que conhecemos. Porém, também aqui se prova um pouco da China diferente, tão diferente como só outra civilização podia representar.
Há verdades absolutas. E uma delas é a verdade do hipermercado. Um hipermercado é um hipermercado é um hipermercado. Nem mais nem menos. Muitas coisas à venda, expostas em prateleiras, à disposição do cliente, que as tira a seu bel-prazer e que as paga no fim. Uma musiquinha de elevador, baixa, interrompida por discretos avisos fanhosos de uma menina do estabelecimento metida a locutora de anúncios de tv. Confusão ao fim de semana, com criancinhas histéricas a correr de um lado para o outro e famílias vastas a ocupar metades de corredores. Esta é uma verdade absoluta, daquelas que nos conforta, pois sabemos que será sempre assim. Contudo, existe uma outra verdade absoluta, que é a verdade do hipermercado chinês. Inclui carrinhos, cestos, famílias vastas e inúmeros artigos à venda, mas também inclui tudo aquilo que nós temos nas feiras tradicionais das terrinhas dos nossos pais. Há concorrência dentro do hipermercado, onde uma banca de laranjas pode ser mais ou menos bem sucedida consoante a qualidade e o volume sonoro do pregão que o respectivo vendedor emprega. Por vezes, há dois vendedores do mesmo produto separados por meio metro, cada um a berrar a plenos pulmões, dizendo, certamente, que a sua truta é melhor que a do vizinho. E o resultado é fantástico, pois comprar um quilo de camarão médio/grande por três euros não é algo de que todos possam gabar-se em Pu Tau Ya. Além deste frenesim, existe um leque variado de legumes exóticos, peixes estranhos, vivos e mortos, carnes disto e daquilo, já cozinhadas ou cruas, dezenas de qualidades de pão, enfim... Aqui, a expressão "self-service" adquire um novo sentido, quando nos apercebemos que se queremos carne, temos de levantar o vidro da montra e tirar nós próprios a carne que queremos levar. O talhante é o cliente. O empregado pesa a carne.

À saída desta feira moderna, contacto com outra realidade: a miséria. Há hordas de pedintes, quase todos senhoras idosas com um aspecto deplorável, mais sujas e mais maltrapilhas que os congéneres europeus mas que, na verdade, não pedem comida, porém exibem um recibo de compras, repetindo incessantemente uma ladaínha que naturalmente não compreendemos. Suspeito que elas peçam que lhes paguem uma conta daquelas, mas julgo que nunca saberei com certeza. Já vimos pessoas a remexerem em caixotes do lixo e meninos de sete, oito anos, sujos de meses, a pedir insistentemente, perseguindo os estrangeiros. Mas quanto a isto não vou alongar-me; não vale a pena descrever uma realidade que é universal e que aqui não é excepção.

2 comentários:

Freddy disse...

E McDonald's??? Confirmas?

gobi disse...

Confirmadíssimo. Não só. KFC, Pizza Hut... Mas foi no Mac lá que tomei o meu primeiro pequeno-almoço. Servem umas coisas a que chamam panquecas e chocolate quente...