Os Mundos e a Porta

Os Mundos e a Porta

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

NCO

A par de outros cento e noventa jovens licenciados portugueses, fui colocado num país e numa organização sem ter possibilidade de manifestar preferência. Em bom rigor, eu pedi ao ICEP para ser colocado na Europa, para estar mais perto de casa. Eles ainda assentiram “oficiosamente”, mostrando grande sensibilidade para o facto de ser casado há três meses.

Bom, o resultado dessa sensibilidade é o que se vê. E a verdade é que Portugal continua a ser Portugal, até onde achamos que determinadas características do nosso povo não deveriam sobressair. Se eu tivesse chorado baba e ranho como alguns colegas que, simplesmente, não gostaram do país e/ou da empresa em que foram colocados, sem qualquer razão séria e excepcional, talvez me tivessem posto na Europa, pois àqueles mudaram o estágio. Mas não o fiz, primeiro porque assumo as coisas como elas são. Segundo, porque levei a sério aquela aparência toda institucional e de grande rectidão que os funcionários públicos do Instituto fazem pompa em apresentar. “Não há troca de estágios!” Sim senhor. Quem não chora não mama e no ICEP também é assim. Quem é sério é na realidade um grande parvo. Ponto.

O tom azedo expressa somente o que sinto, mas não traduz ainda resignação com a coisa.

Posto isto, fui colocado numa firma chinesa de advocacia chamada Capital Associates. Estranhei até ao dia em que pus pé na dita firma e fui esclarecido, mal e tarde, pelos responsáveis da firma, porque razão é que eles haviam de querer um advogado português.

Bom. Cheguei, nove da manhã em ponto. Sentam-me numa cadeirinha dentro de um gabinete e dizem-me para esperar pela chefe. A chefe pelos vistos entra uma hora depois dos outros. Dez.
Hi, my name is Amy (eles adoptam nomes americanos para facilitar)
Hello
So... Are you American?
No... I’m Portuguese!...
....
You know, Portuguese... Pu Tau Ya!
Oooh, Pu Tau Ya!! Ok, ok...
And for how long is you go to stay? Six months, right?
For nine months...
Oh, yeah, right...

Um bom começo, não há dúvida. Quando ouço os outros colegas falarem de almoços de recepção oficial que as suas empresas fazem em sua honra, encolho os ombros. Tive direito a um ten yuan almoço, num tabuleirinho e trazido até ao meu gabinete. Bem bom. Para quem já andou quase a mandar-se da janela abaixo por causa deste disparate pegado que foi eu ter vindo para aqui, isto foi um tónico. Aquilo que justificou abandonar a minha alma metade, deixar tudo e todos, para arriscar uma vida melhor para mim e para os meus, não sabe de onde eu venho nem por quanto tempo fico. Muito bom. Só me motivou, em abono da verdade. Pois que serei eu que construirei a(s) oportunidade(s). Não é agora, agora que o pior já está feito, que vou baixar os braços.


Afinal, a Capital Associates não mais é que o braço jurídico da NCO, que se complementa com o braço contabilístico da NCO-A(ccounting). Mas trabalho para a NCO Consulting, consultora que essencialmente apoia empresas estrangeiras que queiram implantar-se na China, seja de que forma for (excepto exportações). Trata apenas das questões de cariz burocrático, ao nível da emissão de licenças e autorizações para o início e manutenção do exercício da actividade. “Apenas”, não. Na China, tudo o que é administrativo e da coutada burocrática pode ser muito demorado. Pelos vistos, estes tipos têm uma qualquer ligação privilegiada com alguns sectores da Administração Chinesa e é nisso que baseiam a sua actividade.

Então, aqui estou eu na China, a rever e corrigir textos traduzidos do mandarim para o inglês macarrónico deles e a representar a firma junto de estrangeiros. Não estou totalmente insatisfeito com as tarefas em si, até porque espero em breve começar a ter contacto com a legislação chinesa propriamente dita. O problema é que não me dão praticamente nada para fazer. Ou então quando me dão, é um textito de duas ou três páginas para cuja correcção me dão o resto do dia, quando eu despacho aquilo em meia hora...
Mas não tem sido sempre assim. Esta semana até foi animada. Já tenho cartões, o que por aqui tem uma importância fundamental. Aqui, quem não tem cartão não só não entra, como simplesmente não é.

3 comentários:

Unknown disse...

Caro Amigo

É sempre bom saber que essa de "pedir" um lugar perto de casa funciona sempre ao contrário.
Mas tens que ver as coisas pelo lado positivo, uma nova cultura e ao fim de contas passas por americano.... que pinta

Um abraço

Camilo

gobi disse...

;), não tenho outro remédio!... Gostei de te ver por aqui...

Grande abraço

Freddy disse...

Canecos, seguiste as pisadas dos descobridores para carimbares coisas??? Ao menos vinga-te e abre ai uma loja portuguesa q venda alheiras e pipos de vinho!!!