Os Mundos e a Porta

Os Mundos e a Porta

quarta-feira, 16 de maio de 2007

O Panda ou o Cabo do Medo

Quando alguém vê, fala ou lê algo sobre o panda, a associação a uma ideia de ingenuidade, de candura e de "coisinha fofa" é normalmente imediata. Pode dizer-se até que se trata de uma daquelas verdades axiomáticas, indiscutíveis. Panda é puro, panda é doce, panda é fofo, se eu tivesse filhos, podia deixá-los com um panda que ficaria descansado(a). Quase como o Pai Natal, antes de deixar de o ser.

A desconstrução das verdades mais belas trazidas da infância faz parte do processo normal de crescimento intelectual e emocional. O chamado choque com a vida real. Albarran diria "o horror". O horror de saber que afinal o Pai Natal não existe, que a Branca de Neve era promíscua, que o Carlos Cruz não gosta só de botas ou que o José Sócrates não é engenheiro.

O panda não é um Pequeno Pónei. O panda é um depravado, cuja fama de desinteressado é só isso mesmo - fama. Na verdade, estamos a falar de um perigoso predador sexual, que a coberto da noite e dos recantos sombrios, ataca despudoradamente qualquer ser incauto que por ali tenha o azar de passar. Azar ou sorte. Pois há quem diga que é sorte.

Assimilar o espírito panda é também uma expressão do esforço de todos os que percorreram os tortuosos caminhos de Sichuan. Onde as verdades podem tornar-se mentiras, as certezas dúvidas e as questões respostas. Panda. Acordem para a realidade. Todos temos um panda dentro de nós, à espera de uma oportunidade.

Depois desta semana, posso afirmar: Wo shi xiong mao.

Episódios da Viagem.

Chegámos a Chengdu. Uma cidade média, com cerca de quatro milhões de habitantes, capital da província de Sichuan, no centro sul da China. O vôo tinha sido calmo, excepto a descolagem que foi um pouco acidentada. A companhia era a Air China, por isso, tudo tranquilo. Após alguns minutos de espera, lá fomos num minibus para a pousada. Ficaríamos uma noite no Holly Hostel, local simpático mas que tinha mais ar de pensão manhosa do que propriamente de pousada de juventude. Bom bom era o pequeno almoço lá servido. Tão bom que havíamos de lá voltar no último dia, só para tomar a primeira refeição do dia.

Nesse primeiro dia fomos ao Centro de Criação de Pandas Gigantes. Vimos alguns, uns mais à solta, outros menos. Certo é que esse dia seria o primeiro de muitos em que o ailuropoda melanoleuca haveria de dominar as conversas e as piadas. Mas talvez fale do panda num post específico, tal a pertinência e a importância do tema.

No dia seguinte acordámos cedo. Íamos ver o Grande Buda Sentado, uma escultura com cerca de setenta e sete metros de altura, escavada numa falésia, há umas largas centenas de anos, situada em Leshan. Foi interessante e foi também a primeira caminhada/escalada, actividades que marcariam o resto da semana. Trata-se de uma daquelas visitas que à partida não puxa muito, porque a ideia de fazer mais de cem quilómetros para ver um gordo de pedra sentado é tão apelativa como levantar às seis da manhã para ir para a bicha das Finanças para pagar o IRS. Mas a verdade é que a visão do cavalheiro em questão, que é magro, é realmente um assombro, sobretudo tendo em conta que foi feito sem recurso a telemóveis nem GPS.

Após esta visita, apanhámos o minibus para uma localidade a cerca de cento e sessenta quilómetros de Chengdu, denominada Emei. Emei não é mais que uma aldeia satélite de uma montanha com pouco mais de três mil metros de altitude, com o mesmo nome, que basicamente alberga um dos mais importantes complexos religiosos do budismo na China. Bonito foi matar saudades das caminhadas e subir uns milhares de degraus montanha acima, por entre uma floresta muito bela e densa. A certa altura arrependi-me, mas tinha uma reputação a salvaguardar e lá segui, em direcção aos meus restantes companheiros, que, prudentemente, preferiram o abichanado teleférico para realizar a dita ascensão.

Deste dia, fica o espanto de ver um autêntico mar de nuvens sob os nossos pés, um manto que toca os picos da grande montanha, por sua vez dominados por templos que mais parecem faróis de navios que ali não podem existir. Uma imagem saída de uma fábula.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Viagens neste País de Maravilhas


Viajar na China é especial.

Já viajei de avião, de comboio, de autocarro e de carrinha. Já dormi em estrados de madeira e em camas de comboio, já comi coisas que nem sabia que se comiam e em sítios onde não imaginava ser possível servirem comida, já me habituei às sanitas térreas e à correspondente estranha posição que é necessário assumir e já andei em contramão na autoestrada. Já vi montanhas nevadas e lagos de muitas cores, templos que dominam mares de nuvens do cimo de montes, já vi gente muito muito pobre que sorri mais que eu.

E de cada vez que saio, sinto que fica mais ainda por descobrir neste país-continente, onde tantas etnias, línguas e nacionalidades se cruzam numa harmonia estranha, mas eficiente. A paixão vai crescendo devagar, mas não pára de o fazer.

Tenho pena de não ter ido à Queima pela primeira vez, desde mil novecentos e noventa e sete. Claro que agora já não é como antes. Ir à Queima em jeito de reformado saudosista normalmente só serve para nos apercebermos que realmente tudo passou e que estamos a caminho da velhice. Mas a Queima é a Queima. Impossível não ir. Sorte de quem pode.

Ou azar de quem não pode estar aqui.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Viagem ao País das Maravilhas

Vamos então falar um pouco daquilo que foi uma semana de descobertas fantásticas bem no interior da China.

A viagem começou no sábado, vinte e oito de Abril. Apanhámos o avião de Pequim para Chengdu, capital da província de Sichuan, a mil e seiscentos quilómetros, também conhecida pela cozinha ultra-picante. Com base na capital, fomos conhecer um pouco da já chamada China real.
O programa foi animado. Subimos montanhas, sempre acima dos três mil, conhecemos pessoas, bem diferentes das de Pequim, dormimos em pousadas da juventude, umas boas outras enfim, mas sobrevivemos. E bem. Com o coração e a memória cheios de recordações incríveis das paisagens que vimos, dos cheiros que sentimos, dos sons que escutámos, das gentes lindas que descobrimos e de mais um episódio de reforço dos laços, já de si tão fortes, desta desterrada comunidade lusa. Tudo isto não vale a pena dizer, se não for sublinhado o contributo insubstituível que as nossas visitas deram para o sucesso do passeio.
Mas como há imagens que valem mil palavras, aqui vai então o correspondente a cerca de trezentas e trinta mil palavras... Todas da minha responsabilidade. Depois digam que eu só tenho jeito para escrever.
Procurem a pasta "Sichuan 2007". http://fotos.sapo.pt/nunomendes

terça-feira, 8 de maio de 2007

Gobi In

Voltei.

Semana fantástica. Fotos disponíveis em link a anunciar brevemente.

Espero que estejam todos bem.