Os Mundos e a Porta

Os Mundos e a Porta

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Muralha da China?

Anteontem fomos à Muralha da China. Toda a gente sabe o que é a Muralha da China. Apesar de nem todos saberem que os seis mil e oitocentos que ela tem são quilómetros, não são metros, não é, amiguinho?...

Então e apesar de constituir suma arrogância de mais um lost in translation, dispenso-me de descrições exaustivas metidas a guia turístico sobre um monumento que é mais imponente do que qualquer fotografia ou qualquer diáriozeco internético conseguem ilustrar.

O que me interessa é contar que se trata somente de uma verdadeira metáfora sobre o permanente dilema humano do possível e do impossível.

O dilema humano colectivo, mas não só. Sobretudo, o dilema pessoal de conseguir definir objectivamente aquilo de que se é capaz ou não. A ironia é que essa definição nunca será totalmente objectiva, pois depende directamente do grau da capacidade de acreditar nos próprios sonhos e em si mesmo, o que subjectiva imediatamente a coisada toda.

Robert Baden-Powell, Fundador e Chefe Mundial dos Escuteiros e nascido faz hoje precisamente cento e cinquenta anos, era um homem à frente do seu tempo. Quando morreu, em mil novecentos e quarenta e um, deixou um ensinamento, desenhado pelo seu próprio punho, entre muitos e muitos outros:



Essa é que é a história e a mensagem da Grande Muralha da China. É um confronto com as categorias mentais que ciosamente vamos construíndo sobre nós e sobre o que nos rodeia, às pré-classificações do mundo que nos tranquilizam na cama quente do inevitável e nos dizem que ele é assim porque sim.

A Muralha é uma provocação directa e pungente às desculpas que, em jeito de mordomo corcunda de nós mesmos, vamos inventando e consolidando para justificarmos as nossas próprias preguiças, as nossas falhas, os nossos não consegui porque estava a chover ou porque estava meio adoentado ou porque tinha muitas outras coisas (inúteis) para fazer ou porque são maus para mim ou porque...

A verdade escondida de cada um, não dos restaurantes coreanos de Pequim, é aquela que está bem guardada no fundo dos nossos corações e da qual tentamos proteger-nos, por conforto e sobretudo por medo.

A incalculável capacidade de fazer coisas absolutamente extraordinárias, de estarrecer olhos e almas, coisas que nunca alguém imaginou possível mas à medida do homem, não do Homem. Que talvez seja mais fácil e menos maravilhoso erguer uma grande muralha na China do que dar ajuda, pedir perdão ou dizer amo-te.

3 comentários:

Freddy disse...

"How deep is your love...?" Bee Gees asked!

Ana Afonso disse...

:) Creio que tens razão... Será talvez mais fácil edificar a Grande Muralha da China do que ajudar, pedir perdão ou dizer simplesmente "amo-te". E, no entanto, ela permanece...

AVENTURA TT disse...

Para todos aqueles que passam os olhos por este Blog saibam, fui eu que não acreditava que a Muralha da China tinha 6.350 Km (e não 6800km como descritos no texto). Sim porque 6350km de muralha é muita coisa....dá para fazer um raidzito a pé e tudo.