Não sei bem como possa exprimir o meu choque e o meu desgosto profundos, quando fico a saber que Portugal tem um primeiro-ministro que não é honesto, compra o curso e ninguém acha isso grave e sobretudo, quando fico a saber que Portugal tem um povo que diz que Salazar foi o maior português de sempre.
Não me interessa que o PM seja doutor ou não. Isso não conta para nada. O que conta é que ele não é honesto, porque saltou de escola em escola até que alguém lhe vendesse o curso. Mas mesmo assim, não há um jornal, uma rádio, nada, que pegue nisso a sério e que afirme sem medo que um homem sem escrúpulos não pode ser líder de um país. Estamos entregues a um vigarista e assobiamos alegremente para o lado, como se nada fosse.
Não me interessa que o concurso dos grandes portugueses fosse uma chachada de primeira água, mais uma pimbalhada estupidificante das massas que gostam é da novela e que aliviam as consciências por verem e participarem numa pseudo recapitulação (revisão?) da História de Portugal.
O PM é um vigarista. Como raio podem vocês viver tranquilamente com isso? Como? Como é possível não fazer qualquer coisa acerca disso? PM desonesto tem de cair. Tem de cair, acabou-se. Ele jurou sobre a Constituição! Não pode ter uma nódoa que seja!
Salazar foi o maior. Não me interessa que digam que isso é só um cartão amarelo à classe política actual. Não me interessa. Salazar, não. Salazar, não não não! Nunca mais! É uma vergonha! Uma vergonha!! Um desprezo grotesco por todos aqueles que lutaram com a própria vida pela liberdade, um desrespeito pelo próprio país que viveu amordaçado e amarrado durante quarenta anos, numa penumbra medieval e cuja factura de atraso económico, social e cultural ainda estamos a pagar!
E pior!: o segundo classificado só é outro que, independentemente dos sacrifícios que fez em nome da liberdade, também só os fez com o objectivo último de se tornar outro ditador talvez ainda pior que aquele que combateu!...
O que me interessa e preocupa é que o que eu sinto não é bem desgosto. É antes uma repulsa activa por tudo quanto seja da minha terra. Que é habitada por um bando de gente amorfa, inconsciente e irreponsável. E que neste momento, a única coisa que tem de bela, é a fotografia de um indescritível pôr-do-sol no meu Portinho lindo do coração, que tenho no ambiente de trabalho do meu computador, no emprego. O meu querido Porto, aquele que mora na minha memória, que me faz chorar sempre que me lembro dele; com os cheiros e as cores e as luzes e os sons e as vozes e tudo tudo tudo que só eu e quem mais puder ou quiser podemos saber...
Mas será que esse Porto existe mesmo?
Tenho muita vergonha. Eu, Português?