Domingo fui à Missa. Em Pequim existe uma pequena comunidade católica, fiel a Roma, que convive de forma desconfortável com um governo que ainda não tem relações diplomáticas com a Santa Sé e que proíbe qualquer culto cristão que não seja o da Igreja Cristã oficial do Estado Chinês.
Assim, ir à Missa tradicional torna-se uma aventura. Não que seja celebrada nas catacumbas, com receio dos legionários, nem que o símbolo maior seja um peixe, para evitar a perigosa e denunciadora cruz. Mas é no mínimo uma experiência nova, ir à Missa neste país.
O governo sabe que sábado às dezassete e domingo às dez e às onze há missa no vigésimo primeiro piso do Kerry Center. Contudo, para mostrar quem manda, qual ingénuo pai severo que obriga o rebento adolescente a estar em casa às x horas da noite só porque sim, as autoridades chinesas impõem algumas pitorescas exigências à comunidade católica, mormente aos seus líderes, que só podiam decorrer da demagogia inerente a um regime autoritário: a missa não é missa, é “festa”. Assim deve ser anunciado o encontro dominical, seja em panfletos, seja à porta da própria cerimónia. E à entrada o crente tem de apresentar o seu passaporte, para fazer prova da sua condição de estrangeiro. Pois chinês algum pode professar a Fé noutra igreja que não seja a de Mao.
Como se tratava da “Easter Party” – sim sim, tal e qual, mesmo isso, a afluência de fiéis era previsivelmente maior que o habitual. E assim foi. Salão de baile do China World Hotel, talvez umas quinhentas pessoas. Cadeiras soltas em auditório, altar coberto por uma bela toalha branca, com o Missal Romano e um círio, uma pequeníssima tapeçaria com uma representação vaga de crucifixo pendurada na parede, um pequeno Sacrário de madeira lá atrás e um ambão móvel para a leitura da Palavra.
Presidida por um sacerdote americano, o Father Thomas, um homem de sessenta anos, muito bem disposto e que induz uma dinâmica muito forte e colorida nas celebrações, a Missa foi bonita. Muito simples, com um coro bem ensaiado, mas marcada por um traço muito forte de comunhão fraternal entre os participantes. As pessoas sorriam de forma franca e aberta umas para as outras, nos momentos litúrgicos adequados e não só. Os olhares eram felizes. Porque ali, só estava quem realmente queria. Ali só se deslocou o indivíduo que está longe de casa e sente saudade do cheiro fresco das manhãs de domingo e do sol ofuscante que só há aos domingos e nos beija as faces quando caminhamos para a igreja. Sem obrigações sociais, sem conveniências circunstanciais. Na Missa de Páscoa de Pequim só estava quem sentia o chamamento que vem de dentro, um chamamento caloroso, acolhedor, luminoso, pleno e gratuito, de dádiva plena e de entrega recíproca.
Era Páscoa, com Cristo vitorioso sobre a morte e presente ali, não só vivo como Senhor da própria Vida, dentro de cada um de nós, enchendo-nos os corações de força e confiança para continuar a caminhar e para continuar a lutar, por nós e por todos os outros.
Assim, ir à Missa tradicional torna-se uma aventura. Não que seja celebrada nas catacumbas, com receio dos legionários, nem que o símbolo maior seja um peixe, para evitar a perigosa e denunciadora cruz. Mas é no mínimo uma experiência nova, ir à Missa neste país.
O governo sabe que sábado às dezassete e domingo às dez e às onze há missa no vigésimo primeiro piso do Kerry Center. Contudo, para mostrar quem manda, qual ingénuo pai severo que obriga o rebento adolescente a estar em casa às x horas da noite só porque sim, as autoridades chinesas impõem algumas pitorescas exigências à comunidade católica, mormente aos seus líderes, que só podiam decorrer da demagogia inerente a um regime autoritário: a missa não é missa, é “festa”. Assim deve ser anunciado o encontro dominical, seja em panfletos, seja à porta da própria cerimónia. E à entrada o crente tem de apresentar o seu passaporte, para fazer prova da sua condição de estrangeiro. Pois chinês algum pode professar a Fé noutra igreja que não seja a de Mao.
Como se tratava da “Easter Party” – sim sim, tal e qual, mesmo isso, a afluência de fiéis era previsivelmente maior que o habitual. E assim foi. Salão de baile do China World Hotel, talvez umas quinhentas pessoas. Cadeiras soltas em auditório, altar coberto por uma bela toalha branca, com o Missal Romano e um círio, uma pequeníssima tapeçaria com uma representação vaga de crucifixo pendurada na parede, um pequeno Sacrário de madeira lá atrás e um ambão móvel para a leitura da Palavra.
Presidida por um sacerdote americano, o Father Thomas, um homem de sessenta anos, muito bem disposto e que induz uma dinâmica muito forte e colorida nas celebrações, a Missa foi bonita. Muito simples, com um coro bem ensaiado, mas marcada por um traço muito forte de comunhão fraternal entre os participantes. As pessoas sorriam de forma franca e aberta umas para as outras, nos momentos litúrgicos adequados e não só. Os olhares eram felizes. Porque ali, só estava quem realmente queria. Ali só se deslocou o indivíduo que está longe de casa e sente saudade do cheiro fresco das manhãs de domingo e do sol ofuscante que só há aos domingos e nos beija as faces quando caminhamos para a igreja. Sem obrigações sociais, sem conveniências circunstanciais. Na Missa de Páscoa de Pequim só estava quem sentia o chamamento que vem de dentro, um chamamento caloroso, acolhedor, luminoso, pleno e gratuito, de dádiva plena e de entrega recíproca.
Era Páscoa, com Cristo vitorioso sobre a morte e presente ali, não só vivo como Senhor da própria Vida, dentro de cada um de nós, enchendo-nos os corações de força e confiança para continuar a caminhar e para continuar a lutar, por nós e por todos os outros.
2 comentários:
É reconfortante saber que Cristo venceu de facto a morte...e essa realidade espalha-se por todo o mundo. Sem excepção! Feliz Páscoa!
Se nõa há cabrito nem compasso, não é Páscoa!!!
Mas fico contente por saber como também "estamos" ai!
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