Sem que me seja possível atestar in persona a veracidade de tais postulados, presumo que na Lusitânia distante os férteis telejornais tenham ribombado essa pitoresca curiosidade de noutro lado qualquer que não no nosso umbigo o ano se passe noutro dia que não no nosso inevitável trinta e um de dezembro.
Sim, que no nosso umbiguinho, com ou sem cotão, o ano é de passar a trinta e um.
Mas há umbigos e umbigos. Há o umbigo cristão, que tem dois mil e tal anos, o umbigo judeu que tem cinco mil e muitos, o muçulmano com mil trezentos e picos e o chino com uns quantos. Ainda há o meu, que tem vinte e oito, mas para o caso não interessa muito. O que é certo é que o meu ano novo é a nove de julho e isso não sai no telejornal mas o chinês sai. E eles nem sequer têm dia certo para passar de ano.
Por aqui é uma patetice pegada. Não percebem nada de nada nem como se vê o fogo em condições. O fogo não é como o São João. O povo não se junta em manada compacta em margens de rio algum, nariz empinado no ar e bocas semiabertas a imporem o hálito marítimo enquanto gritam ao puto para estar quieto e não chatear muito, que quero ber o fuogo carago! Nem batem as palmas de cada vez que a ponte se alumeia tuoda.
Aqui é cada um por si. Cada pessoa só pode comprar até trinta quilos de fogo para lançar, o que realmente é pouco. Acho que cada pessoa devia poder comprar quanto quisesse, isso de limitar a uns míseros trinta quilos de fogo é mesmo atitude de governo de ditadura.
Depois de rebentarem o ordenado de um mês nuns fulminantezinhos, vão para o meio da rua e continuam a rebentar. E o tuga que baixe a cabeça se não quiser apanhar com umas faúlhas valentes no manjerico. Então o resultado é este:
hoje foi terça-feira e há uma semana que esta desgraçada cidade parece que está a levar com um valente bombardeamento, de manhã à noite, porque o fogo não pára. Com o óbvio pico na noite passada de sábado para domingo, ok. Mas então funciona assim, há um manuel que se lembra que ainda tem uns morteiritos para rebentar e pronto, põe-se ali no passeio e cá vai disto. Do género, olha não tenho nada que fazer, vou ali mandar uns morteiros e venho já. Uns selvagens.
Na noite de sábado era fogo de artifício por toda a cidade, para onde quer que se olhasse no horizonte, havia fogo de artifício. E eu estava a ver de um vigésimo segundo andar, portanto, via longe. Só mesmo aqui. Cores de todos os feitios, altos, baixos, aqui e ali.
Ao menos Portugal é civilizado. O povo junta-se todo, cola-se todo, pisa-se todo, grita uns com os outros, grita com o marido, grita com a criança, grita com a mulher, com o Rio, com o Menezes, com o padre, com o vizinho e com o outro, depois o fogo vem, grita mais um bocado, espera pelos três últimos morteiros secos, que têm de ser três senão não é fogo de jeito, e depois regressa a casa, a pensar no quanto a última sardinha caiu mal, a pensar no carneiro que se vai comer ao almoço amanhã e a não pensar mais no fogo, que foi sempre bom, mas não tão bom como o daquele ano que esse sim é que foi mesmo uma categoria.
Estes indígenas passam um ano inteiro a pensar no fogo e uma semana a vivê-lo. Uns brutos.
Sim, que no nosso umbiguinho, com ou sem cotão, o ano é de passar a trinta e um.
Mas há umbigos e umbigos. Há o umbigo cristão, que tem dois mil e tal anos, o umbigo judeu que tem cinco mil e muitos, o muçulmano com mil trezentos e picos e o chino com uns quantos. Ainda há o meu, que tem vinte e oito, mas para o caso não interessa muito. O que é certo é que o meu ano novo é a nove de julho e isso não sai no telejornal mas o chinês sai. E eles nem sequer têm dia certo para passar de ano.
Por aqui é uma patetice pegada. Não percebem nada de nada nem como se vê o fogo em condições. O fogo não é como o São João. O povo não se junta em manada compacta em margens de rio algum, nariz empinado no ar e bocas semiabertas a imporem o hálito marítimo enquanto gritam ao puto para estar quieto e não chatear muito, que quero ber o fuogo carago! Nem batem as palmas de cada vez que a ponte se alumeia tuoda.
Aqui é cada um por si. Cada pessoa só pode comprar até trinta quilos de fogo para lançar, o que realmente é pouco. Acho que cada pessoa devia poder comprar quanto quisesse, isso de limitar a uns míseros trinta quilos de fogo é mesmo atitude de governo de ditadura.
Depois de rebentarem o ordenado de um mês nuns fulminantezinhos, vão para o meio da rua e continuam a rebentar. E o tuga que baixe a cabeça se não quiser apanhar com umas faúlhas valentes no manjerico. Então o resultado é este:
hoje foi terça-feira e há uma semana que esta desgraçada cidade parece que está a levar com um valente bombardeamento, de manhã à noite, porque o fogo não pára. Com o óbvio pico na noite passada de sábado para domingo, ok. Mas então funciona assim, há um manuel que se lembra que ainda tem uns morteiritos para rebentar e pronto, põe-se ali no passeio e cá vai disto. Do género, olha não tenho nada que fazer, vou ali mandar uns morteiros e venho já. Uns selvagens.
Na noite de sábado era fogo de artifício por toda a cidade, para onde quer que se olhasse no horizonte, havia fogo de artifício. E eu estava a ver de um vigésimo segundo andar, portanto, via longe. Só mesmo aqui. Cores de todos os feitios, altos, baixos, aqui e ali.
Ao menos Portugal é civilizado. O povo junta-se todo, cola-se todo, pisa-se todo, grita uns com os outros, grita com o marido, grita com a criança, grita com a mulher, com o Rio, com o Menezes, com o padre, com o vizinho e com o outro, depois o fogo vem, grita mais um bocado, espera pelos três últimos morteiros secos, que têm de ser três senão não é fogo de jeito, e depois regressa a casa, a pensar no quanto a última sardinha caiu mal, a pensar no carneiro que se vai comer ao almoço amanhã e a não pensar mais no fogo, que foi sempre bom, mas não tão bom como o daquele ano que esse sim é que foi mesmo uma categoria.
Estes indígenas passam um ano inteiro a pensar no fogo e uma semana a vivê-lo. Uns brutos.
2 comentários:
Fixe é na Turquia a comemorar as vitórias do Galatasaray... De AK-47 em punho a disparar para o ar para ver se acertas nos cornos do vizinho ranhoso, à la morteiro technique...
Devias ter pedido um subsídio ao nosso PM para melhores tem integrares na milenar cultura chinesa. De qualquer forma, nao me leves a mal, mas entre barulho de foguetes ou de tiros no meio do interessante carnaval brasileiro, nao sei de que lado do mundo se está melhor...
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