A verdade é que foram duas noites, sexta e sábado. Na primeira, fomos à descoberta. Ouvimos dizer que a zona de Sanlitun Lu, que é também a das embaixadas, tinha vários bares, alguns razoáveis. Lá fomos rua fora, um frio miserável, a pé, todavia já cansados de pagar um euro, no máximo um euro e meio, a dividir por três ou quatro, sempre que precisamos de usar o táxi.
À parte as inúmeras abordagens de que eu e os outros valorosos representantes da virilidade lusa sofremos por parte de belas jovens de vinte anos, “ladies bar?”, “want chinese lady?”, “body massage?” e por aí dentro, é de referir um certo dejà vú quando se põe pé na Sanlitun, num fim de semana à noite.
À parte as inúmeras abordagens de que eu e os outros valorosos representantes da virilidade lusa sofremos por parte de belas jovens de vinte anos, “ladies bar?”, “want chinese lady?”, “body massage?” e por aí dentro, é de referir um certo dejà vú quando se põe pé na Sanlitun, num fim de semana à noite.
A versão pequinesa de Albufeira não é muito original. Também há vendedores ambulantes de comida, mas não há rulotes, só há carrinhos puxados por bicicleta; não há castanha assada, mas há batata doce, assada sobre brasas, ali mesmo, na rua. Por vezes encontram-se grupos de homens, encostados a uma parede, em plena calçada, a assar em brasas também feitas ali mesmo em pequenos recipientes de metal umas espetadinhas pequeninas de indecifrável carne, enquanto jogam cartas, fumam uns cigarros, destes daqui que custam um euro o maço mas que devem matar duas vezes mais depressa que os nossos, bebem uma zurrapa qualquer e riem.
Cada bar e cada discoteca têm dois ou três porteiros/angariadores de clientes, que quase nos impedem de continuar, atirando a palavra inglesa que aparentemente todos os chineses conhecem bem: cheap, cheap!, enquanto saltam de um lado para o outro tentando atrair a nossa atenção. Há vendedores de tabaco e muitos pedintes maltrapilhos. Alguns, crianças muito pequenas. A animação fica completa com os remates de luz e cor estridentes que cada casa expele portas e janelas fora.
Entrar num bar puramente chinês é uma experiência nova. Não que seja justo tomar o todo pela parte, mas a amostra foi ilustrativa. Há sempre meninas a cantar, normalmente duas, às vezes karaoke, às vezes não. E normalmente há sempre um organista mal amanhado, com ar de tipo que foi apanhado à pressa no meio da rua pra ir tocar umas cantiguitas. As músicas são daquelas à Vítor Espadinha, muito românticas, cantadas com muita expressividade facial, como se em vez de cantar o amor se estivesse a carpir o luto. O que talvez sobressaia mais são as cores e a decoração. Suponho que o Quentin Tarantino tenha vindo à China uma ou duas vezes, porque, apesar do enredo do Kill Bill ter ligações ao Japão, aqui, as semelhanças com a coincidência são mesmo realidade. Os círculos com as cores do arco-íris no cenário do palco, conjugados com os finíssimos lasers que dançam freneticamente não ao ritmo de sim eu sei que tudo são recordações e que mudam de cor de sílaba a sílaba, deixam-nos a esfregar os olhos, averiguando se a Amália é Rodrigues ou se é Thurman.
Enquanto uma canta, a outra espera ao lado, em silêncio. Simula um bambolear forçado, mas sem esconder a cara de frete e de desdém. E depois trocam. Em tudo.
Como tudo aquilo farta rapidamente, saímos não mais devagar. Sem conhecermos, vagueámos e demos por nós num beco, apinhado de pessoas, caracterizadas pelos mesmos dois traços: ocidentais e miúdos. Fomos parar ao bar da moda para todo o filho de diplomata e afins, o Shooters. Fez-me lembrar os bares manhosos da Ribeira. Pequeno, a abarrotar de gente, com bebidas baratas baptizadas com os nomes mais estranhos. Música da moda para abanar o rabo, da nossa moda, de há um ou dois anos. Pedimos um shot, pedimos uma TsingTao, que já agora é uma cerveja muito interessante. E pusemo-nos a observar.
Cada bar e cada discoteca têm dois ou três porteiros/angariadores de clientes, que quase nos impedem de continuar, atirando a palavra inglesa que aparentemente todos os chineses conhecem bem: cheap, cheap!, enquanto saltam de um lado para o outro tentando atrair a nossa atenção. Há vendedores de tabaco e muitos pedintes maltrapilhos. Alguns, crianças muito pequenas. A animação fica completa com os remates de luz e cor estridentes que cada casa expele portas e janelas fora.
Entrar num bar puramente chinês é uma experiência nova. Não que seja justo tomar o todo pela parte, mas a amostra foi ilustrativa. Há sempre meninas a cantar, normalmente duas, às vezes karaoke, às vezes não. E normalmente há sempre um organista mal amanhado, com ar de tipo que foi apanhado à pressa no meio da rua pra ir tocar umas cantiguitas. As músicas são daquelas à Vítor Espadinha, muito românticas, cantadas com muita expressividade facial, como se em vez de cantar o amor se estivesse a carpir o luto. O que talvez sobressaia mais são as cores e a decoração. Suponho que o Quentin Tarantino tenha vindo à China uma ou duas vezes, porque, apesar do enredo do Kill Bill ter ligações ao Japão, aqui, as semelhanças com a coincidência são mesmo realidade. Os círculos com as cores do arco-íris no cenário do palco, conjugados com os finíssimos lasers que dançam freneticamente não ao ritmo de sim eu sei que tudo são recordações e que mudam de cor de sílaba a sílaba, deixam-nos a esfregar os olhos, averiguando se a Amália é Rodrigues ou se é Thurman.
Enquanto uma canta, a outra espera ao lado, em silêncio. Simula um bambolear forçado, mas sem esconder a cara de frete e de desdém. E depois trocam. Em tudo.
Como tudo aquilo farta rapidamente, saímos não mais devagar. Sem conhecermos, vagueámos e demos por nós num beco, apinhado de pessoas, caracterizadas pelos mesmos dois traços: ocidentais e miúdos. Fomos parar ao bar da moda para todo o filho de diplomata e afins, o Shooters. Fez-me lembrar os bares manhosos da Ribeira. Pequeno, a abarrotar de gente, com bebidas baratas baptizadas com os nomes mais estranhos. Música da moda para abanar o rabo, da nossa moda, de há um ou dois anos. Pedimos um shot, pedimos uma TsingTao, que já agora é uma cerveja muito interessante. E pusemo-nos a observar.
Só aí percebi que não era um sonho, que não tinha regressado ao meu Tugalzinho pequenino da minha gente pequenina, do bacalhau e do Figo, do fado e do carago de que tenho tantas saudades e que ainda estava no outro lado do mundo. Porque aqui, as coisas são mesmo diferentes, seja em grandes pormenores ou em pequenos. E vi miúdos de catorze, quinze, dezassete anos no máximo, pretos, brancos, amarelos, escurinhos e assim-assim a dançarem todos juntos, parecendo um cardume, para onde um virava viravam todos, esforçando-se por terem em contacto uns com os outros a maior área corporal que fosse possível sem cair. A promiscuidade era viscosa. Fixei um rapazinho alto e magro com ar de árabe, que dançava com uma mocita que não podia ser mais nórdica. As mãos dele estavam coladas ao traseiro da miúda, ostensivamente abertas, enquanto passeava o nariz (só vi o nariz, mas até pode ter sido mais) pela cara, pelo pescoço, pelos ombros dela. Volta e meia davam um beijo, mais lambido que apaixonado. Às páginas tantas, cansa-se, larga-a e agarra outra, repetindo a façanha com a mesma aplicação. A questão é que era assim por todo o lado. Devia tratar-se de um grave caso colectivo de carências afectivas. É que não interessava se era gordo/a ou magro/a, bonito/a ou feio/a, alto/a ou baixo/a, rapaz ou rapariga, porque havia disso tudo. O que interessava era estar agarrado a outra pessoa, encostar o corpo todo a alguém e ter alguém atrás encostado a si. Impressionante.
Já meio enojado com tanta secreção e borbulhame metido a adulto, virei-me de costas e aportei ao balcão, onde esperava ver caras mais saudáveis. Mas não. O que vi pôs-me tão fora de mim que me apeteceu voltar ao mar de saliva e de suor lactífero... Um cavalheiro, talvez dos seus cinquenta anos, copo numa mão, a outra no bolso, virado para os putos, a medi-los de cima a baixo, com ar de carneiro mal morto. A babar-se todo, basicamente. Confundido, pois por momentos parecia que afinal tinha mesmo voltado a Portugal, tentei esquecer aquilo tudo, conseguir respirar à tona de tanta nhanha junta e, assim, procurei refúgio em mais uma TsingTao. Bebesse eu mais duas ou três e talvez tivesse enfiado um daqueles bancos altos na cabeça daquele bicho nojento, que não parava de olhar e, por vezes, cúmulo do asco, de fechar os olhos e respirar fundo como que a dizer a si próprio tem calma, tem calma... Depois o António decidiu meter conversa com o miserável, tipo deixa-me dar tanga ao pedófilo. E lá deu, tirando fotografias com o espécimen, abraçado, a rirem-se, um do outro e o outro não sei de quê, talvez de si mesmo e da sua desgraçada sina.
Na noite seguinte, fomos a uma festa promovida pela Embaixada de Angola numa discoteca chique da cidade. Bar aberto. Vimos Bonga projectado num ecrã e umas senhoras brancas e loiras dos seus cinquenta anos, vestidas de branco, com saias curtas e bem travadas a mostrarem que não há magreza que resista ao encanto da meia idade, dançando energicamente kizomba com os seus amigos africanos. Quando chegou a parte da tarrachinha, achámos que era melhor voltar ao frio da noite. O que fizemos. Não sem antes sorrir forçadamente para um senhor de idade muito atencioso para com as nossas colegas, que dançou à frente delas durante alguns minutos, qual pavão no cio. Mas não era pavão. É Embaixador.
2 comentários:
ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ, Pedófilo a dançar, o que esses gaijos andam a tramar? Eim????
Até faz um gajo ter saudades das discotecas de bifas no Algarve ou do Cais... Canecos, ao menos xuta mais um fininho pq nem tudo pode ser mau nesta noite...
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