A odisseia no Zhaolong continua. Depois de três dias à procura de casa, escolhemos finalmente uma. Mas como é nova e não tem mobília, teremos de aguardar mais um pouco e permanecer na camarata dos sete euros diários, com WC comum ao piso e que nos tem proporcionado alguns momentos de descobertas, como avaliar até que ponto um chinês consegue libertar-se das produções rectais com a porta da casinha aberta e manter a maior descontracção, lendo uma revista e fumando um cigarro. Isto, para não falar do encontro imediato de terceiro grau que pode ser estar numa sanita ocidental e apanhar, numa das pernas, pingos do autoclismo de uma outra térrea ao lado, que está elevada e não tem menos que dez centímetros de altura na divisória entre latrinas. Mas há muito que só temos Zhaolong Sessions by night, dado que, após os repastos crepusculares no luso apartamento pioneiro daqueles que vieram antes de nós os três, ficamos por ali ou então vamos em busca de um café expresso. Só perto da uma da manhã apanhamos o VW Jetta amarelo com risca verde ou o Citröen ZX vermelho com risca preta de volta ao Hostel, viajando por uma nova Pequim, zonza de tanto néon e descansando do trânsito selvagem que a massacra durante o dia. Lá, perdemo-nos nas horas, actualizando diários ou dando uso nobre aos portáteis, nomeadamente, através de uma honrada disputa futebolística nessa maravilha da arte humana que dá pelo nome de Pro Evolution Soccer 6. Assim nos manteremos, até dia trinta e um, data histórica em que faremos finalmente o Little Portugal dos oito tugas na Torre B do complexo Ocean Express, condomínio fechado também na Dongsanhuan Beilu, mas mais a norte, do lado direito, atrás do imponente edifício do Banco da China.
Ao embarcar num dos ten yuan fare taxicab, dizemos algo como Xioushui e perante a perplexidade do pobre pai de família, reconhecemos a derrota e exibimos o mapa, onde essa coisa está escrita em rasto de formiga em fuga com as patas sujas de tinta. Ao chegar lá, confirmamos que aqui, aquilo que parece, não é. O Mercado da Seda é realmente um mercado. E é realmente um emaranhado de corredores, com centenas de bancas de comerciantes. Bancas semelhantes àquelas que conhecemos nas feiras de exposições, como stands, com não mais que seis metros quadrados cada. Mas ninguém pense que é uma feira ao ar livre à escala chinesa. Trata-se de um edifício, com vários andares, cheio de publicidade nas paredes exteriores, com escadas rolantes que transportam milhares de clientes carregados de sacos para cima e para baixo. Faz lembrar alguma coisa? Por momentos, muito breves mesmo, olhei para cima, esperando ver uma certa varanda da maternal autoridade.
Encontramos casacos, sobretudos, fatos de homem, fatos de senhora, fatos típicos, kimonos, lenços, gravatas, t-shirts, camisolas de lã, calças de ganga, calças de terylene, calças de bombazine, saias disto e daquilo, chapéus, roupa interior, sapatos de senhora, sapatos de homem, chinelos, sapatilhas, botas de montanha, relógios, jóias, máquinas digitais, leitores de mp3, câmaras, telemóveis, telescópios, consolas de jogos, filmes, computadores, leitores portáteis de dvd, artesanato e muito mais coisas.
O primeiro choque é o da gritaria generalizada. Bilingue. Sim. Espantosa, essa súbita capacidade dos chineses falarem outras línguas. Quando algum empregado vê um estrangeiro no corredor, começa a apregoar num cintilante, diversificado e correctíssimo inglês. E quando os outros o ouvem, começam a gritar ainda mais forte, na língua que fez Shakespeare. E aqui, uma justa chamada de atenção aos vários comerciantes que não só falam inglês, como conseguem arriscar prognósticos sobre a nacionalidade do estrangeiro que têm à sua frente e soltam escorreitos "Olá!" para trás e para a frente. Bom, talvez fossem "Hola!", mas prefiro pensar que não.
O ambiente é febril, com os clientes a fugirem uns dos outros para não chocarem e a fugirem dos empregados dos pequenos pontos de venda, forrados com diferentes artigos. Sim, na Rua da Seda, em Pequim da China, foge-se dos empregados, porque de contrário, é-se literalmente sequestrado dentro do stand.
Virgem na matéria, vi um kimono interessante e recordei-me de uma encomenda que alguém me fez, ainda em Pu Tai Ya. Acerquei-me do dito e inquiri o custo da acetinada fatiota. A histeria à minha volta era total. Eu não queria entrar na loja, porque os outros portugueses já iam à frente e era fácil perceber que, se entrasse, demoraria a sair. A loja tinha duas empregadas. Uma puxou-me pelo braço para dentro e respondeu-me através de uma máquina calculadora. A outra ficou na fronteira entre o cubículo e o corredor, de costas para mim. Quando agradeci a informação e me dirigi para o corredor, a da calculadora, irritada, disse wait sir, best price, best price e martelou furiosamente na calculadora, mostrando um novo número, desta vez metade do primeiro. Repeti, thank you, only seeing, mas ela, valente, no sir, no, how much do you pay for it? I don't pay anything, I don't want it, ok? Pois. Na China, "não" quer dizer "tens de baixar o preço". Tive de escapar dali à força, sacudindo a primeira empregada e empurrando a segunda, que entretanto tentava impedir a fuga, barrando-me o caminho. Surreal.
O que o Mercado da Seda tem de especial não é só as peculiariedades dos vendedores e do local em si. São os preços, que mantêm uma relação muito desequilibrada com a qualidade dos artigos à venda. Vencido pela sedução de tamanhas bagatelas, acabei por cometer uma pequena loucura e permitir-me a mim mesmo deixar de ter de retirar o telemóvel do bolso sempre que quero ver as horas. Pois é para isso que serve um relógio. Mesmo um Tag Heuer Link por quinze euros regateados, depois de no início me serem pedidos trinta e cinco. Nada mal... Parece-me que ainda vou lá passar uma vezinha ou outra...
Ao embarcar num dos ten yuan fare taxicab, dizemos algo como Xioushui e perante a perplexidade do pobre pai de família, reconhecemos a derrota e exibimos o mapa, onde essa coisa está escrita em rasto de formiga em fuga com as patas sujas de tinta. Ao chegar lá, confirmamos que aqui, aquilo que parece, não é. O Mercado da Seda é realmente um mercado. E é realmente um emaranhado de corredores, com centenas de bancas de comerciantes. Bancas semelhantes àquelas que conhecemos nas feiras de exposições, como stands, com não mais que seis metros quadrados cada. Mas ninguém pense que é uma feira ao ar livre à escala chinesa. Trata-se de um edifício, com vários andares, cheio de publicidade nas paredes exteriores, com escadas rolantes que transportam milhares de clientes carregados de sacos para cima e para baixo. Faz lembrar alguma coisa? Por momentos, muito breves mesmo, olhei para cima, esperando ver uma certa varanda da maternal autoridade.
Encontramos casacos, sobretudos, fatos de homem, fatos de senhora, fatos típicos, kimonos, lenços, gravatas, t-shirts, camisolas de lã, calças de ganga, calças de terylene, calças de bombazine, saias disto e daquilo, chapéus, roupa interior, sapatos de senhora, sapatos de homem, chinelos, sapatilhas, botas de montanha, relógios, jóias, máquinas digitais, leitores de mp3, câmaras, telemóveis, telescópios, consolas de jogos, filmes, computadores, leitores portáteis de dvd, artesanato e muito mais coisas.
O primeiro choque é o da gritaria generalizada. Bilingue. Sim. Espantosa, essa súbita capacidade dos chineses falarem outras línguas. Quando algum empregado vê um estrangeiro no corredor, começa a apregoar num cintilante, diversificado e correctíssimo inglês. E quando os outros o ouvem, começam a gritar ainda mais forte, na língua que fez Shakespeare. E aqui, uma justa chamada de atenção aos vários comerciantes que não só falam inglês, como conseguem arriscar prognósticos sobre a nacionalidade do estrangeiro que têm à sua frente e soltam escorreitos "Olá!" para trás e para a frente. Bom, talvez fossem "Hola!", mas prefiro pensar que não.
O ambiente é febril, com os clientes a fugirem uns dos outros para não chocarem e a fugirem dos empregados dos pequenos pontos de venda, forrados com diferentes artigos. Sim, na Rua da Seda, em Pequim da China, foge-se dos empregados, porque de contrário, é-se literalmente sequestrado dentro do stand.
Virgem na matéria, vi um kimono interessante e recordei-me de uma encomenda que alguém me fez, ainda em Pu Tai Ya. Acerquei-me do dito e inquiri o custo da acetinada fatiota. A histeria à minha volta era total. Eu não queria entrar na loja, porque os outros portugueses já iam à frente e era fácil perceber que, se entrasse, demoraria a sair. A loja tinha duas empregadas. Uma puxou-me pelo braço para dentro e respondeu-me através de uma máquina calculadora. A outra ficou na fronteira entre o cubículo e o corredor, de costas para mim. Quando agradeci a informação e me dirigi para o corredor, a da calculadora, irritada, disse wait sir, best price, best price e martelou furiosamente na calculadora, mostrando um novo número, desta vez metade do primeiro. Repeti, thank you, only seeing, mas ela, valente, no sir, no, how much do you pay for it? I don't pay anything, I don't want it, ok? Pois. Na China, "não" quer dizer "tens de baixar o preço". Tive de escapar dali à força, sacudindo a primeira empregada e empurrando a segunda, que entretanto tentava impedir a fuga, barrando-me o caminho. Surreal.
O que o Mercado da Seda tem de especial não é só as peculiariedades dos vendedores e do local em si. São os preços, que mantêm uma relação muito desequilibrada com a qualidade dos artigos à venda. Vencido pela sedução de tamanhas bagatelas, acabei por cometer uma pequena loucura e permitir-me a mim mesmo deixar de ter de retirar o telemóvel do bolso sempre que quero ver as horas. Pois é para isso que serve um relógio. Mesmo um Tag Heuer Link por quinze euros regateados, depois de no início me serem pedidos trinta e cinco. Nada mal... Parece-me que ainda vou lá passar uma vezinha ou outra...
5 comentários:
E fotos meu amigo!??
Queremos fotos!
Queremos fotos!
Queremos fotos!
Sedas & al., quero, quero. Mesmo com gritaria, que bem sei como os chineses têm o sitema vocal desenvolvido e o auditivo atrofiado, se existente.
Bem bom saber de si e da sua alegre descoberta de graças e desgraças.
Por falar em portáteis e coisas parecidas, tens acentos e cedilhas ai?
E consegues ler as nossas?
Eheh...
Os teclados não têm, mas põe-se o teclado configurado para Português e fica com um teclado virtual na nossa língua. Só é preciso teres decorado onde fica cada acento...
Encomendas de Kimonos.. ele há cada maluco!!! Já viste a responsabilidade de te mandar às compras nesses sítios??
Hehe o gajo devia ir preso!!!!
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