Os Mundos e a Porta

Os Mundos e a Porta

sábado, 27 de janeiro de 2007

DJÁOLHONG BINGU AN!

Após algumas horas de encontro, os arredores da cidade de Pequim surgem lentamente. Constante facto marcante: as inúmeras fileiras de edifícios exactamente iguais, albergues ou morada de algumas centenas de milhar de operários das indústrias ali instaladas.
Quando sentimos o baque, percebemos que é real. O palco das nossas memórias infantis mais exóticas. Feito de terra, vento e gente. O avião estacionou e quando cruzei a porta, senti uma corrente de ar, diferente, gélida e com um cheiro novo. Era a China.

As malas ficaram em Lisboa e tivemos de esperar quatro dias para mudar de roupa. Mas a senhora que nos garantiu no Francisco Sá Carneiro que as malas nos acompanhariam nas duas vezes que mudámos de avião ainda deve estar descansada a pensar que a sua vida é perfeita. E assim deve ser, pois foi a British Airways que nos pagou a indemnização e não ela. É bom ser tuga.

Dizer Zhaolong parece fácil. Em português diz-se começando por um "z". Mas em mandarim, não é bem assim. Apresentámos a página do Lonely Planet, que tinha a inscrição em mandarim da pousada da juventude que havíamos escolhido para permanecer temporariamente. Apercebemo-nos então de algo muito comum em Beijing e que nos perseguiria para sempre: a cidade é tão grande que muitas vezes os taxistas não sabem onde ficam certos locais ou moradas. É como pedir a um taxista do Porto para nos levar à Avenida da República em Felgueiras. Aquele não sabia onde ficava a Zhaolong International Youth Hostel. Bem dissemos: záolong! Ficou parvo a olhar para nós. Não satisfeitos, dirigimo-nos a um polícia dos táxis (sim, isto existe, é uma espécie de fiscalização dos táxis) e fizemo-lo entender que precisávamos que ele dissesse aquela morada ao taxista. Então, ele disse: "DJÁOLHÔNG, BINGU AN!" É isso mesmo, camarada polícia. Mas eu consigo dizer anticonstitucionalissimamente e tu não.

No táxi, silêncio geral, cabeças a rodar de um lado para o outro, como num jogo de ténis. O único som que havia era o de uma emissão de rádio que consistia numa longa e lenta prelecção monocórdica de um senhor claramente seguro do que estava a dizer, pois dizia o que dizia de forma sentenciatória, imperativa, intercalando a firme propaganda com reflexivos momentos de silêncio. Esse senhor deve ser muito popular, pois viríamos a ouvi-lo muitas vezes noutros táxis. Ao contrário da música, que nunca ouvimos em parte alguma, excepto nos restaurantes ocidentalizados. Como vozes de gente na rua. Não se fala, nas ruas de Pequim.

Lá fui. Para o resto das nossas vidas.

2 comentários:

McCap disse...

Não sabia que ias com mais porTugas para partilhar as dúvidas, angustias e saudades. Pelo menos podem-se insultar uns aos outros. Quantos são?

Freddy disse...

O gajo do rádio devia ser o Louçã de lá a falar sobre o aborto!!!

E essa história das malas perdidas tb para mim é cena dejá vu pois aconteceu-nos isso com a digressão do Grupo de Fados! Aos States!!!!!!!!!!!!!!!!!